Quando se fala em igreja é infalível ouvirmos a perguntas que se seguem, pelo menos é esta a minha experiência:
Qual é a sua igreja?
Qual é o seu ministério?
O Sr está sob a cobertura de qual ministério?
O Sr. Já foi batizado pelo Espirito Santo?
Quantas almas o Sr., já levou para Cristo?
Quem é o seu líder?
A que célula o Sr pertence?
O Sr., é líder?
O Sr., já teve um Encontro com Deus?
Sei que muito poucos leem estas mal digitadas linhas, mas vou repetir e voltar a explicar que:
Não sou Ex nada, sou uma pessoa comum, com problemas comuns, que tenho uma vida comum com uma família comum, vivo em um lugar comum, somente cheio de verde, cercado de pássaros, peixes, em uma rua comum em uma cidade comum, portanto sou um pouco mais que nada.
Quando pequeno, coisa de um sessenta anos atrás, usava a terra que tínhamos no fundo quintal para plantar legumes, árvores frutíferas, e em um canto criar galinhas, vendo-as chocar seus ovos, observá-las criar seus filhotinhos, observar o cuidado que tinha ao protegê-los dos cachorros, dos gaviões que então eram muitos ali na periferia de São Paulo, assim reforçávamos as parcas receitas financeiras, mantendo destarte a mesa sempre farta e rica em alimentos frescos vindos do quintal.
Cresci, vendo minha mãe preparando o macarrão de domingo,o pão nosso de cada dia, cantando quase que o dia todo os velhos hinos do antigo hinário Evangélico
Cresci, vendo a natureza se expressando, nas tempestades de verão, nas pescarias de traíras e lambaris, carás, ali nas lagoas da baixada do Aricanduva; no crescimento e frutificação dos pessegueiros, laranjeiras, caramboleiras, nespereiras, vendo os frutos nascerem, crescerem e serem saboreados sofregamente e docemente maduros.
Senti a vida passando entre o saborear de espigas de milho verde recém-colhidas e assadas em uma fogueira improvisada com galhos caídos das árvores, subindo em árvores para curiosamente ver os ninhos de passarinhos, acompanhar o seu crescimento, ver seus pais na faina ininterrupta de alimentá-los, e depois ensinando-os a voar. Passei a infância tendo o prazer de andar por ruas lamacentas após a chuva, tendo o prazer de pisar nas poças d'Água, amassando com os pés o barro vermelho, sentindo o prazer de sua macies ao passar por entre os artelhos, apanhando o barro e modelando formas indefinidas, e ao fim do dia receber uma reprimenda de minha mãe por ter enlameado a roupa, recebendo como castigo um banho no tanque, de roupa e tudo, para retirar toda aquela sujeira, que ao invés de ser punição, era mais um momento de alegria...(eu era muito feliz e não tinha noção disso até agora; louvado seja Deus.).
Por isso, quero crer, que a Bíblia para mim teve sentido desde cedo, pois dava para entender sem nenhum rebuscado teológico, ou figura de retorica da Escola Dominical, quando ela declara que:
“Os céus e a terra proclamam a glória de Deus, um dia discursa a outro dia e a noite revela conhecimentos a outra noite, não há linguagem, nem palavras e deles não se ouve nenhum som.”, pois é vá la apanhe sua Bíblia e leia o Salmo 19, e atente para o versículo 7.
O salmista diz não haver som, eu, docemente constrangido discordo.
Pois muitas vezes me encantei ao ver ao entardecer,a luz vermelho alaranjado saindo por um lado do céu, acompanhado pelo chilrear dos pássaros buscando os ninhos para o descanso noturno; a bem da verdade uma sinfonia maravilhosa, enquanto do outro lado do céu uma lua de tamanho desmedido, inundava o princípio da escuridão com uma luz suave e encantadora de um azul prateado, gerando sombras deslumbrantes, que permitia que nós os garotos , já de banho tomado, continuássemos nossos brincares, sob o olhar de nossos pais, reunidos ali e aqui em conversas , que via de regra, se bem me lembro ainda, passado tanto tempo, diziam respeito as nossas traquinagens do dia.
Nessas tertúlias dos finais de dia dos Outonos e Primaveras e mesmo dos Verões após a chuva, quantas pessoas não foram levadas a Cristo pelo testemunhal de vida?
Hoje eu vejo que ali tínhamos uma igreja reunida; muitas vezes vi vizinhos se acertando e ajustando a ajuda sem alarde, a fulano que está sem emprego a tanto tempo; vi também o acerto de mutirões para ajudar alguém na reforma da casa, na construção do poço, na construção da cerca, era muito raro na periferia onde cresci ver mendigos vagando pelas ruas, sem que alguém logo lhe socorresse com um prato de comida, bem recheado por sinal, ou um copo dos grandes de suco.
E esses muitas vezes desamparados pela vida, nunca pediam dinheiro, se ofereciam para realizar pequenos trabalhos para receber uma paga, tinham uma espécie de orgulho, não aceitavam dinheiro sem que realizassem um mínimo de trabalho, e quando não lhes pedíamos o trabalho, apanhavam uma vassoura e iam logo varrendo um pedaço do quintal, que então não era cercado.
Hoje vejo duas igrejas, a institucional, o prédio, os encargos, a manutenção, os salários, os enfeites, as festas, maior parte delas vazias, os cultos onde os pretensos adoradores se apresentam como treineiros de artistas gospeis, no meu tempo de menino, os adoradores era a assembleia reunida no templo cantando em uníssono, alto e com alegria os hinos sacros, com letras que faziam sentido e cuja centralidade era Deus, louvor.... verdadeiramente louvor, de uma comunidade que havia passado uma semana de trabalho árduo e por isso agradecia a Deus, uma comunidade que queria ser serva de Deus, irmã de Jesus portanto filhos adotados por Deus, uma comunidade a serviço de seus irmãos, pouco importando sua crença, pois entendiam que servir ao semelhante era servir a Deus.
Hoje, creio que o único orgulho que os crentes de então ostentavam, era as melhores roupas que vestiam para ir a igreja, terno bem passado, camisa com colarinho e mangas engomadas, vestidos bem ajustados e passados, sapatos limpos e bem engraxados, pois íamos a Casa de Oração, para louvar e agradecer a Deus pelo dom da vida que nos dera até ali; íamos nos prostrar diante do Criador e expressar nosso reconhecimento pelo seu enorme insondável amor por nos ter dado seu filho para nos remir de todos os pecados.
Não tínhamos a pretensão de profetizar, de realizar atos proféticos, de exibir nossa capacidade de louvar individualmente, não tínhamos o pastor como um ser especial, mas alguém especialmente tocado por Deus para nos ajudar na caminhada neste mundo.
Não tínhamos demonstrações mirabolantes, mas com muita frequência a igreja se reunia em ações de graça de misericordioso milagre que Deus havia manifestado em alguém da nossa comunidade, inclusive por alguém que nem sequer evangélico era.
Ninguém se preocupava com os tais ministérios,, se alguém tinha ou não sido batizados pelo Espírito Santo, mas víamos pessoas que pelos seus testemunho de vida, estavam sob a tutela do Espírito Santo em suas vidas.
Líder? Se tínhamos líder ? Sim tínhamos, leiam o salmo 23 inteiro; esse o nosso líder.
Quantas almas levamos para Cristo, eu nunca contei, pois era menino, mas sei que nunca tivemos luzes, cantores verdadeiros adoradores, nunca foram vendidos discos, nunca foram feitos seminários, encontros tremendos, reuniões de milagres, de curas, de prosperidade. Sempre foi a escola Dominical, os trabalhos dos Jovens, com reuniões de estudos e de momentos de alegria e os cultos de Louvor onde o pastor usava a maior parte do tempo em nos ministrar a mensagem, sem rebuscados psicoteológicos, sem gritarias a guisa de retórica, sem profetadas, mas recheadas de ensinamentos, fruto de sua dedicação ao estudo da palavra, voltados para a sua comunidade de ovelhas, a quem, eles pastores realmente, apascentavam, creio que por isso a igreja vivia cheia, sempre beirando cem pessoas louvando a Deus.
Vou parar por aqui pois as lágrimas não me deixam ver o teclado.
Deus tenha misericórdia de todos nós.
V.D.M.I.Ae.