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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Como o evangelho entrou na minha vida

Estava aqui matutando como o evangelho entrou em minha vida, eis aí: Eu era muito garoto, tanto tempo faz que sequer tenho certeza do ano, mas esta tão vivo em minha memória já começando a combalir pelo peso uma viagem ao redor do sol por setenta e quatro órbitas mais mês e meio, que quase consigo visualizar a cena: Uma senhorinha de uns trinta e nove anos de idade na faina diária de cuidar da casa,, tirando água de um poço, girando a manivela que trazia o balde cheio, mas apesar do esforço, cantando: “Conta as bênçãos, dize-as quantas são Recebidas da divina mãos, Vem dize-las dize-as de uma vez, E veras surpreso quanto Deus já fez”, cantava e continuava a sua faina diuturna. Doutra feita encerando o chão com um esfregão de ferro pesado, puxando o brilho como dizia-se então nos idos de 1940, cantava: “Embaixador por Deus dos reinos D’além céu, Venho em nome de meu Deus, Eia a mensagem que me deu, que os anjos cantam lá no céu: Reconcilia vos já diz o senhor meu rei, Reconcilia vos já com Deus. A prepara o almoço ou o jantar, sempre muito saboroso, como só as comidas feitas por nossa mãe o podem ser, ouvia também um novo hino: “Tenho lido da bela cidade, Situada no reino dos céus, com seu trono de jaspe luzente, cercado de áureos troféus. No meio da praça está o rio Da vida e vigor eternal. Pois metade da glória celeste Jamais foi contada a um mortal... E assim eram todas as manhas, tardes e noites após o jantar, Quando então passava por minha cama, ajustava as cobertas e eu ouvia entre acordado e dormindo, quando pousava sua mão rústica da faina diária em minha testa: -Deus te abençoe, hoje e sempre meu filho. E eu dormia cercado de lindos sonhos e sabendo que amanhã poderia estar chovendo, mas sabia que o sol da voz da minha mãe estaria ali para aquecer o meu novo dia..Já se vão sessenta anos e eu me sinto abençoado ainda por aquelas palavras dos hinos e daquela benção à beira da cama. A todos que isto lerem, saibam que não é literatura, mas a mais pura tradução daquilo que a memória ainda me permite recordar. Foi assim que o evangelho entrou na minha vida um barão com os olhos lacrimejantes de saudades.