Páginas

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Angustia da morte, ou certeza da vida?



Oi meus caros e amados leitores, não os conheço pessoalmente, e de nome somente alguns que acompanham este cibernético espaço em que eu, vez ou outra perpetro a ousadia de escrevinhar uma coisinha, que ao fim e ao cabo nem sei se faz muito sentido.
Já tendo rodado uns 68.146.457.573 de quilômetros em órbita deste lindo planeta que nos foi dado por Deus; conduzindo uma de minhas netas para a escola, não mais que de repente me deparei com a seguinte colocação por parte dela:
Vô, não me entenda mal, mas eu gostaria de fazer uma pergunta para satisfazer uma curiosidade e uma angustia pessoal, posso? Eu lhe respondi:
A pergunta você é livre para fazer da mesma forma que eu sou livre para responder, então vá lá desembucha...(*)
Vô eu tenho dezenove anos e me angustio em pensar que um dia irei morrer como é com você, que com a misericórdia de Deus, a sua perspectiva de vida é no máximo de vinte, vinte e cinco anos?  Vô não me entenda mal, por favor...
Convenhamos todos nós, dirigindo em meio a um trânsito pesado das primeiras horas da manhã, não é necessariamente essa pergunta que pensava ouvir.
Mas como tudo na vida é surpresa, o que primeiro me ocorreu, foi chamar-lhe a atenção por não ler o que o vô escrevinha neste espaço.
Admirada ela me perguntou:
Sim! Pois se lesse regularmente teria se inteirado de meu pensamento a respeito disso, no texto “Os meus primeiro oitenta anos de vida”; mas eu vou procurar te responder.
Com base em minha experiência pessoal, nós passamos por várias angustias neste percorimento de órbita terrestre, la pelos quinze anos, se nos bate uma angustia  provocada pela pergunta que todos nós, com maior ou menor insistência nos colocamos.
O que eu vou fazer na vida?  Isso não irá ocorrer somente se você for um “cuca fresca”,(**) mas essa ocorre, pelo que senti e vi em muitos de meus alunos ao longo da vida.
A escolha da profissão é uma agonia, que eu dizia como disse a mim mesmo:
Vá fazer o que você gosta mais de fazer, se não tiver idéia, pergunte, questione, examine muitas coisas e possibilidades, disse uma vez a um aluno.
Pouco importa se você quiser ser lixeiro, engenheiro, professor, ou seja lá o que for, importante mesmo é que se for professor ensine com amor e respeito por seus alunos, se for engenheiro, seja o melhor, faça seu trabalho com lisura e responsabilidade, amor e criatividade, se decidir ser lixeiro, seja o melhor, faça seu serviço com carinho, se perceber que um papel de bala escapou a sua vassoura, volte e o recolha, olhe a rua onde você trabalha como se fora sua.
Quando você então olha para trás e vê o tempo percorrido e descobre que a partir de agora ele o tempo parece mais célere, e você se pergunta:
Até agora eu ainda não fiz nada de relevante, e a vida esta correndo, será que sou um inútil?
Não se angustie você foi criado por Deus como tudo o demais na natureza, e como tal cada coisa tem seu tempo; uma planta de abacaxi demora sete a oito meses para dar o seu fruto, o cafeeiro demora seis anos para dar os seus frutos, uma mangueira precisa de sete ou oito anos para frutificar, assim somos nós; alguns produzem seus frutos mais cedo outros mais tarde.
Então as responsabilidades aumentam, com os filhos, a chefia, a construção da casa e muitas outras responsabilidades que nos são colocadas pelos ciclos da vida.
Até mesmo a angustia da morte fica como que adormecida por esse período, só nos assaltando mais fortemente, quando perdemos um amigo, um parente mais idoso.
Temos o péssimo costume de encarar a morte como um fim, respondam-me apena com a lógica mais rasteira sem eivos filosóficos; se realmente a morte é um fim por qual razão motivo ou circunstância, acumulamos tanto conhecimento? Somente para depois da morte virar chorume?
Minha neta, o homem que se angustia, não percebe que essa angustia é apenas fruto do desconhecimento do que está por vir.
Quando saímos de casa, temos por objetivo ir a algum lugar seguramente sabido existir ou estar ali. Com base nisso sempre brinquei com o meio de transporte aéreo, dizendo:
É o mais perfeito meio de transporte que existe, pois sempre cumpre o que promete; te levar ao aeroporto de destino, ou te levar ao inexorável destino de todo aquele que um dia nasceu, de encontro a sua vida eterna.
Nunca fui muito admirado por meus colegas de serviço, pois naquele tempo, o avião entre São Paulo, Rio, Brasília, Belo Horizonte, afora as cidades do interior de São Paulo, era o nosso ônibus. A propósito estamos todos vivos até onde eu sei, até hoje.
Mas a sua pergunta tem resposta clara eu não me angustio com a possibilidade ter vir a ter mais umas vinte ou vinte e cinco órbitas terrestres para percorrer, nem mesmo o pensar que esse encontro com a passagem desta para melhor como todos dizem, ser agora ou daqui a algumas horas.
A neta interrompeu meu raciocínio e lascou:
Mas você não fica angustiado nem um pouco? Como pode? Respondi:
Parece que estou falhando em dar testemunho, você convive comigo todo esse tempo e ainda não percebeu a importância dá fé?
Procuro não ser cristão nominal, ou cristão de tabuleta, de ritual, mas de fato e de busca...
Se Jesus morreu para que eu possa ter a vida eterna, se crer em Sua palavra e Seus ensinamentos, qual a razão para ficar angustiado com o pouco ou muito tempo que possa vir a dispor?
Quando àquela hora chegar, o que tenho pedido nos últimos tempos é que Deus tenha misericórdia de mim, que quis e muitas vezes não procurei com muito empenho ser melhor e mais fiel, e me perdoe e me receba no seu reino, onde eu sei que vou viver além dos meus primeiros anos de vida, seja oitenta ou quantos anos forem.
Caso você me pergunte se eu quero morrer, vou te responder que não, pois primeiro, o humano que existe em mim quer ser eterno, o que é, mas não aqui; direi mais, nesse departamento estou, mas mão de Deus, com temor e amor, pois Ele pode me tirar esta e a vida futura.
Em uma parada de transito no farol, dei uma olhadinha de lado e vi minha neta com os olhos perdidos lá no infinito e falando em voz baixa.
Eu queria ter a tua fé vô...
Terminamos  o resto do tempo, sem mais falar.
Deus possa ter misericórdia de todos nós e nos ensinar a confiar em sua palavra a cada dia que passa em nossa vida por aqui.
(*) = põe para fora, ou fale.
(**)= Cabeça vazia, irresponsável

Pois a única  verdade é que

V.D.M.I.Ae.