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segunda-feira, 14 de abril de 2014

Lembranças de ontem, tirando o sono de hoje...



Eis-me aqui insone ou mal dormido como se diz por aqui, mais um acontecimento de ontem, tirando o meu sono hoje...
Morava eu em outra cidade, e era feliz devedor do Banco Nacional da Habitação, devendo um terço ainda das prestações, que segundo contrato assinado, aumentava de conformidade com o meu aumento salarial, anualmente. 
Mas eis que um luminar descobriu um rombo (melhor e mais apropriado seria chamá-lo de roubo), nas contas do dito BNH, unilateralmente desvincularam os contratos e passaram a aplicar índices aleatórios.
Fiz uma analise do meu contrato e os valores (crescente) que teria que pagar no futuro, decidi vender a casa, recuperando os valores pagos atualizados e comprar um terreno em outro local onde construísse uma casa por pequena que fosse, mas que me permitiria fugir desses financiamentos malucos.
Quase acabei morando debaixo da ponte, pois na época o bigodudo presidente, que herdou o trono, regia o reino brasilis com inflação tsunamica, pois quase não consigo comprar nada.
Acabei bem ou mal comprando um terreno aqui onde me homizio, e construir uma casinha muito mal jambrada mas minha, e aos poucos fui fazendo o acabamento, reboco, piso frio, etc. etc. e la se foi o dinheiro havido na venda anterior.
Mudei-me em dezembro de 1990, o ParTido nesse período discutia o imposto
Territorial urbano, social, até aí tudo bem, vamos ao fato...
Construí minha casinhola, nos fundos do terreno, que media como mede ainda l2m de testada e 32m da frente aos fundos, minha casa construindo no fundo do quintal em causa deixou à frente pouco mais ou menos 26 metros, onde com o tempo plantei: amoreiras, mangueira, pitanga, acerola, goiaba, cana, limão Frances, banana nanica, da terra e outras coisitas mais.
Estava ocupando a casa havia apenas dois dias, portanto na ocasião a chácara urbana ainda não havia se desenvolvido, quando em uma manhã de domingo, ouvi baterem palmas, fui até o muro para atender o solicitante.
Era um rapaz de pouco mais de vinte e cinco anos, vestido com boas roupas, tênis Nike; ele se servindo de um buraco, elevou o corpo acima do muro, se apresentou e disse:
-Moço eu sou um sem terra e vi sua construção, o senhor já fez sua casa lá no fundo sobrou todo esse espaço, eu estou requerendo que o senhor me dê este espaço.
Nesse momento, traçou no ar apontando referencias no terreno do espaço que “requeria”, ajuntando que ele teria direito e que eu estava em desacordo com a doutrina da função social da propriedade (coisa que o ParTido discutia em São Paulo, na prefeitura recém conquistada.
Quando arrazoei que eu havia comprado essa área toda e que o pedaço por ele “requerido” não estava à venda... fui interrompido:
-Não estou lhe pedindo para vender, o senhor vai me dar esse espaço para que eu construa a casa à qual tenho direito. Pasmo eu só pude perguntar:
-O quê?
É isso que o senhor ouviu, e tem mais se o senhor se recusar a me dar esse pedaço do seu lote, pois eu tenho direito de ter uma propriedade e minha casa, eu vou invadir e tomar posse deixe o (vou citar como o faço sempre) o Lolligo sampaulensis ganhar a eleição pra presidente o senhor vai ver se vai ou não me dar esse lote, pois se não der eu vou invadir.
Eu estava estupefato com o que ouvia; minha reação não foi das mais corretas posso hoje ao longo de tanto tempo admitir, mas foi a mais correta para aquela situação surrealista, de um individuo se utilizando de doutrinas discutidas no ParTido em São Paulo, para vir revogar o direito à propriedade às duras penas adquirida, além da ameaça de que se o seu líder um tal cefalópode apedeuta, se tornasse o presidente, ai então eu “iria ver o que me aconteceria."
Diante dessa colocação do indigitado, chamei minha melhor amiga, uma linda Pastor Belga, treinada, o fiz vê-la e indiquei que aquela pessoa era uma ameaça, a cachorra o fez descer do muro, pois voou em sua direção com uma mordida que por pouco não o atingia.
Mandei ela ficar quieta e acrescentei:
Se você vier invadir este meu pedaço de terra adquirido com muito custo e privações, terá que se defrontar com ela (a cachorra), e caso ela não der conta do recado, terá de se haver comigo. Caso você entre neste terreno sem ser convidado, haverá somente duas formas de sair: Uma muito rápido voltando pelo lugar por onde entrou; a outra será em um caixão de zinco levado para o IML.(1)
O rapaz impactado pela minha reação foi se afastando lançando impropérios e ameaças, dizendo:
-Você, safado burguês vai ver quando o Lolligo sampaulensis for presidente, nos vamos tirar você daí burguês de merd... E saiu rua acima a falar em altas vozes suas ameaças e as doutrinas da socialização das propriedades...
Bem, resumindo tudo, o Lolligo sampaulensis ganhou as eleições, meus cuidados redobraram...
Mas estou aqui já ha vinte e poucas órbitas e a minha chacrinha urbana, essa sim cumpre seu dever social, com distribuição de bananas, acerolas, cana, mangas, que acabam fazendo a alegria das crianças cá da vizinhança e de nossos amigos.
Será que eles estão "amadurecendo", e voltarão ao ataque. Como ocorreu ali na venezuela?

Só de uma coisa eu tenho absoluta certeza:

V.D.M.I.Ae.

E que Deus possa ter misericórdia de nós, apesar de nós mesmos. 
Um barão sonolento..

IML =Instituto Médico Legal.