Oi meus caros leitores, (ainda tem gente que despende seu
tempo a ler este velho cutruca), fico-vos profundamente agradecido, pois nesta
quadra da vida, quando estou me aproximando da setuagésima quinta órbita nesta linda nave, que a
continuar como anda logo não teremos espaço para por os pés de tanto lixo
jogado por aí; voltando aos fatos, fico-vos grato por ter quem me ouça, melhor
seria ler?
Bom a verdade é que com essa enormidade de órbitas, quando a
memória nos socorre, temos um cabedal de lembranças que se
enovelam entrecruzam, desaparecem, ressurgem, mas não nos deixam, como se
fossem fantasmas de ontem fazendo-se presentes hoje.
Nestes dias de efervescência
de amoralidade em meios religiosos e políticos, de mentiras deslavadas,
de absoluta cara de pau, de homens e mulheres que deveria ser paradigmas de condutas, mas o que vemos, chicanas,
mentiras, meias verdades. Exemplo escarrado e cuspido disso é o Loligo
sampaulencis, a dizer que o ParTido deve defender a PeTrobras, mas cabe
perguntar, quem foi que a lançou no caminho da derrocada de décima segunda
maior companhia para o centésimo vigésimo
lugar? Por acaso fui eu na minha cutruquisse?
Nesse enevoar de recordações, está vivo e insistindo para
sair da memória e vir para este espaço físico e se dar a conhecer um fato que
ocorreu por volta de dois mil e três.
Vamos a eles:
Quando me mudei para cá
onde me homizio(1) a maior parte do tempo, conheci um vizinho, recém
casado, que era engenheiro da então Petrobras.
Ele era um fanático do ParTido, de tal forma que embora recém
conhecidos, ele fazia questão de atazanar minha paciência com:- "eu iria ver
quando o seu ParTido ganhasse a eleição
presidencial, eu iria ver o que era um
governo, que não iria permitir negociatas e ou chicanas como até então fizera o
governo do (Fora) FHC". A atazanação
tomou tal vulto que me vi na contingência de lhe pedir que aguardasse a eleição
e caso o seu ParTido viesse a ganhar,
depois de seis meses nós voltaríamos a comentar algo.
Quer me parecer que meu vizinho não gostou muito da coisa
toda de sorte que desde então não mais
nos falamos.
Isso foi contabilizado como os desencontros dos horários, de
cada um dos dois.
Passados seis ou sete meses (aqui a memória me falha), em um
cair de tarde, ouço palmas no portão, e uma voz a chamar:
-Professor ! professor.
Sai para atender e eis que
la estava meu caro vizinho
engenheiro.
-Professor preciso conversar com o senhor, dá pra me dar uns minutos de atenção?
-Claro, claro, sempre que você julgar necessário, respondi
não atinando o que poderia ser.
Então ele desfiou a sua fala:
-Professor eu devo lhe pedir desculpas... interrompi:
-Em razão do quê? Não
vejo nada para tanto!
-Eu explico, lembra de nossa conversa de um tempo atrás na qual o senhor me pediu que esperasse o
ParTido ganhar a eleição e que depois deveríamos
conversar, pois é professor, é por isso que estou pedindo desculpas.
Pois veja eu trabalho na PETROBRAS há tanto tempo, até antes
do governo do FCH, que o partido dizia que queria vendê-la, mas eu devo
confessar que durante os oito anos desse
governo, ali na unidade onde trabalho e trabalhei este tempo todo, nunca
entrou um funcionário, seja la qual fosse sua função sem que tivesse prestado
concurso para o cargo.
Pois é professor nestes últimos seis meses entraram bem vinte e cinco engenheiros,
indicados pelo ParTido, aos quais eu tive que treinar.
Além de serem engenheiros civis, la nós precisamos de
engenheiros mecânicos, engenheiros de manutenção ou formados em engenharia química,
esses tais indicados ainda lhes faltava a experiência, já que a maioria era recém
formada.
Eu estava errado em lhe atazanar enfatizando a lisura do ParTido;
com sua experiência o Senhor estava certo ao dizer que os mal formados lhes carece o caráter e o poder os corrompe...
Perdoe-me professor...
Paramos a conversa por aí, voltamos a falar de amenidades,
mas ninguém me tira da cachola cutruca que foi aí que a Petrobras, mudou o logo
para PeTrobras e iniciou sua descida na
escala de importância mundial como
empresa, e hoje esta envolvida em maracutaias(2) mil, em detrimento do Brasil...
Lembranças de um passado recente, que teima em vir a tona da
memória por me da cá esta palha...(3)
A única coisa incorruptível e imutável é
V.D.M.I.Ae.
(1) Homizio = me escondo.
(2) Maracutaias = Gír. esp. Conluio prévio e desonesto para que um jogo ou competição termine com um resultado, favorável àquele a quem convém sair vencedor.
(3) me da cá esta palha = expressão popular significando"por qualquer coisa"