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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Os pés, ou Assim caminha a humanidade.

Remexendo em meus achados, ou seriam perdidos?
Acabei encontrando um texto lavrado nos idos de 1998, que nunca foi dado a publico, e como acabei a não muito tempo de ter criado a categoria “memórias” e em razão de se tratar de algo que diria, retrato fiel da vida, decidi dá-lo a luz neste blog, como uma imagem da nossa sociedade cristã...
lá vai o dito texto:

Em outubro passado, como eu presumia que um dia iria acontecer, desencadeou-se o problema que persegue minha gente há muito tempo; pressão alta.
Acredito que em outras oportunidades já deva ter tido crises rápidas e passageiras, por obra de stress e ou coisa que o valha, que os médicos de então apenas me despachavam com:
--Corte o sal de suas refeições o mais possível e abstenha-se de álcool.
Até aqui tudo bem, só que desta vez foi para valer, mas não estou aqui para porfiar em lamúrias, já que tenho esse monstro comigo é melhor tratar de não alimentá-lo e ou mimá-lo com chiliques ou que tais.
O que me trás diante deste teclado foi o tempo que passei no consultório médico aguardando que a dita cuja acima mencionada baixasse a níveis ditos normais.
Lá estava eu o paciente (eita nominho mais adequado para um doente em um hospital, principalmente se for do SUS), aguardando o efeito dos remédios, quando me dei conta de um senhor, não sei se avançado em idade ou um ser carcomido pelas agruras da vida, deitado em uma maca a minha frente;
Por suas feições, era um desses homens forjados na lide dura do dia a dia dos dotados de um cabedal nulo, que deve ter tido que conquistar a sobrevivência a cada momento  com denodo, e poucos e parcos instrumentos, a não ser sua energia física.
Com toda a certeza, as luzes da escola, lhe fora negada pela vida;
Em suas narinas, dois chumaços de gaze embebidas em sangue que se lhe esvaia aos borbotões. Seu olhar, longe e esgazeados pela fraqueza e cansaço aparentes; mas me pareceram olhos lúcidos, muito provavelmente relembrando, sem muito esforço, alguns dos poucos momentos felizes de sua vida.
Suas roupas, simples e surradas, que nós que ingressamos na terceira infância temos a mania de afirmar que são as mais gostosas.
Estava ali aquietado, com o olhar perdido ao longe. Com sua ingente dor; ainda assim denotava uma altivez que os mártires e os sofredores apresentam; nenhuma revolta, nem um traço de angustia, mas uma face que tresandava humildade evangélica, de quem diz: --"Seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus..."
Não foi tudo de que até aqui falei que me pôs pensativo, pois tudo isso foi apenas obtido de observação; mas os seus pés, descobertos pelo desarranjo da maca.
Pés que traziam esculpidos em suas rugosidades o testemunho dos caminhos percorridos, dos espinhos pisados, das pedras que teve que trilhar, pés que na maior parte de sua vida com certeza o levou nas estradas de trabalhos árduos. Pés de pele curtida, quase couro, ali abandonados no leito, sem forças para lhe levar a canto algum.
Nesse devaneio, a vista daqueles pés anonimo, pude imaginar aqueles poucos momentos que muito provavelmente aquele homem recordava,. No vazio daquela situação...
As poucas alegrias de nossa gente simples, o futebol da várzea, os bailes de final de semana, quando então ele podia caprichar com parcos recurso, no se vestir, no cabelo, nos movimentos rebuscados de seus passos para impressionar as moças de seu tempo,, pés que muito provavelmente o ajudou nas rixas ou nas fugas de brigas inglórias;
Pé fracos e incapazes de lhe servir agora, para buscar outros caminhos... ao seu lado uma filha bem vestida, que muito provavelmente o levara até ali....
Meus devaneios foram abruptamente interrompidos pela voz de uma enfermeira com um tom de sargento fazendo inspeção no quartel:
--Aqui não pode ficar ninguém que não for paciente, faça-me o favor de sair.
  • Mas eu estou cuidan.... tentou dizer a filha, interrompida pela enfermeira que arrematou:
  • Cuidando dele estamos nós, a senhora queira sair e aguardar lá fora.
A filha resignou-se e retirou-se para fora do local.
Aquele senhor chamou a enfermeira e disse em um fio de voz como quem do fundo de um poço brada por socorro:
--Olha moça, essa minha filha me bateu, é por isso que eu estou assim...

Barão de Bitarú, em uma triste tarde de devaneio.

Esse era todo os texto, até hoje quanto acrescento:

Cerca de vinte e poucos minutos depois, aquela moça que não queria sair pois estava cuidando do indigitado senhor, saiu dali, devidamente algemada, e quero crer, provocando mais  dores no coração daquele pai.

Deus possa ter misericórdia de nós, apesar de nós mesmos.

Saibam todos que:

V.D.M.I.Ae

Dedicação incondicional, ou O que podemos aprender com os animais.

Oi gente, que por distração ou curiosidade, acaba abrindo esta blog e desperdiça seu tempo lendo sandiotices que ouso digitar por aqui.
Estou curtindo o aconchego de uma cama e cobertores quentinhos por culpa de uma gripe, ou sei lá o que me derrubou.
Me derrubou apesar de vacina da “melhor idade”, que ainda não entendi por qual razão,motivo ou circunstancia, estes milhões, digo bilhões de quilômetros rodados nesta linda, nave espacial, é classificado como melhor idade, talvez a mas sábia, a mais meditativa, a mais compreensiva mas a melhor? (veja Ec 12:1-8).
Mas neste compulsorecolhimento, entre espirros, e outros achaques; me pus a pensar na vida e me ocorreu as lembranças de meus cachorros.
Mas sou daqueles que nunca troca os amigos pelos animais, mas tenho ao meu redor cinco pássaros dois cachorros e um seiscentos peixes, afora os sanhaços, as saíras e os tiês que vira e mexe vem verificar como andam as minhas aceroleiras, as mangas, a pariparoba, além do sabias e dos bem-te-vis que aparecem vez ou outras para variarem seus cardápios com os meu peixes.
Com pessoa dodói, recolhido ao leito ( quentinho) no modorra do sono me ocorreu a lembrança da Tupai, ( eu explico o nome Tupa = raio; i = particula indicativa de diminutivo, logo, Tupai=pequeno raio).
Uma Pastor Belga, muito experta, com uma postura nobre, veja a foto acima, aprendeu logo, tudo o que foi ensinado: Ataque, defesa, atenção, imobilização, etc, etc.
A bem uns vinte e poucos anos atras estava eu recém mudado para esta cidade mais adoentado do que agora.
Viajando em uma febre resistente, enquanto meu irmão que havia vindo me visitar pé, voltou a sua casa para apanhar o carro para me levar ao hospital.
Na beira da sonolência, senti o halito quente no rosto, seguido de uma lambida fria...
Abri o olho e vislumbrei o vulto da Tupai (essa da foto ai em cima) ao meu lado, levantei-me acariciei sua testa.
Ela ficou ao meu lado, movendo sua cabeça para esquerda e direita, como quem procurava entender...
Deixei-me invadir pelo sono febril que começava a novamente me dominar, quando percebi que Tupai sairá do meu lado.
Qual não foi minha surpresa ao ouvi-la chorar ( alguns dizem ganir), mas aquilo era um choro langoroso e compungido.
Minha esposa veio correndo de outro canto da casa para se inteirar do que estava ocorrendo;Quando viu a Tupai chorando correu para o quarto assustada gritando :
--Benzinho...Benzinho...
Eu a repreendi:
--Fale baixo, por favor minha cabeça esta explodindo...
Em seguida pedi a ela que fosse procurar dona Maria, uma senhora vizinha nossa, conhecedora profunda de mezinhas caseiras, e lhe contasse o meu estado, a ver se ela me indicaria algum chá.
Resumo da ópera; após tomar o chá recomendado, em 15mim estava de pé e bem para poder partilhar da alegria da Tupai, fato esse percebido pela vizinha já citada:
– O que tem essa cachorra que não para de pular, perguntou D.Maria ao ver cachorra
Eu sabia. Estava feliz por me ver bom...
Tupai se foi, mas restou viva em minha memória sua dedicação, amor incondicional, proteção e alegria de ter partilhado os 15 anos de sua vida, com minha família.

Desculpem-me fazê-los desperdiçar tempo com as brumas de minha memória febril, mas fica aqui uma pergunta ainda surgida no enevoar febril:
Como seria nossa vida se pudessemos dedicar a Deus o mesmo amor incondicional que os cães tem por nós.
Caso você não tenha percebido ainda esse amor canino, com certeza você nunca teve um cachorro, ou o tem criado amarrado no fundo do seu quintal. Então leia Pv. 12:10.