Guilhermino M.de Paulo Filho |
Desde muito cedo, lá
pelos doze ou treze anos de idade , comecei a me dar conta das incongruências entre
o que se fala e o que se vive.
Morava, no que então
era periferia da cidade de São Paulo, Vila Aricanduva, na zona leste, do centro
para chegar até ali, tínhamos uma viagem de bonde (dez centavos), de quase
quarenta e cinco minutos. O bairro tinha muito verde, morava em frente à
chácara do Pereira, então já abandonada.
Não entendia, como por
outro lado nem hoje, sessenta órbitas, mais velho, entendo, que alguém doente,
tenha que pagar, hospital, remédios etc., para ter sua saúde restaurada.
Meu velho pai, então
funcionário da Central do Brasil, possuía o privilégio de não pagar transporte
ferroviário, tanto assim que por me dê cá esta palha, íamos para Santos pela
Estrada de Ferro Santos Jundiaí.
Muitas vezes fui
apodado de sonhador, romântico, por não me conformar com essa cobrança pela
saúde e pelos remédios, por estar a vida humana vinculada a valores financeiros.
Tive que adotar pelos
menos duas vezes, uma atitude da qual não me orgulho hoje, mas que “in extremis
habitum”, adotei:
Quando o meu pai, esse
garboso militar ai em cima, em estado muito grave de saúde, em um hospital que
tinha convênio, com a Central do Brasil, não quis recebê-lo sequer para o
primeiro atendimento, fui mandado sair e procurar outro hospital, isso dito com
um desprezo inconcebível...
Muito calmamente, olhei
o individuo que me mandava sair, e fitando em seus olhos disse:
-Você tem tanto tempo
de vida que o meu pai; estou saindo para procurar outro hospital, caso ele
venha a falecer antes de qualquer atendimento, eu volto e você também vai
morrer... Até logo. E saí.
Fui alcançado já no
pátio de estacionamento por um homem e uma maca, apanharam meu pai e o levaram
imediatamente para o hospital.
O médico que o atendeu,
ficou preocupado, me chamou de lado e falou teu pai esta em um estado muito
grave, vamos fazer de tudo para que ele melhore, mas me diga, se ele falecer?
Respondi ao preocupado
médico, o rapaz da recepção esta com medo? Pois diga a ele que esse velho
doente me ensinou, “nunca fale o que você não pretende cumprir” e eu aprendi
isso muito bem, logo eu havia dito a ele que “se meu pai falecesse sem atendimento,
ele iria fazer companhia nessa morte; e perguntei ao médico:
O Sr. Esta prestando
atendimento a ele, pois não? Então diga ao indigitado que ele não tem mais nada
a temer, a propósito, o que o levou a mudar de opinião e prestar o devido
socorro a quem procura um hospital ?
E que ele fique a
vontade para prestar uma queixa na polícia contra mim por ameaça de morte, que
eu saberei me defender, inclusive com o seu depoimento sobre o estado de meu
pai.
Não louvo ou apoio
atitudes de violência ou de ameaças, mas é necessário e imprescindível, que
diante de certos fatos e ou atitudes que, aqueles que se sentem e ou pensem ser
autoridades, e em posição de cargo algo superior tentem impor ` á revelia do
que deva ser amor ao próximo, respeito à vida,e a verdade, adotemos atitudes,
fortes, retas e inflexíveis, na defesa desse necessário amor ao próximo, e a
esse respeito à vida, e á verdade.
Esse garboso jovem da
foto,em seus oitenta anos de vida, diante de muitas vicissitudes, ainda disse a
mim: “Lastreia, meu filho sua vida na verdade, para que nunca você tenha que se
curvar diante dos homens, pois isso só devemos fazer diante de Deus” , talvez
uma das ultima lições faladas pois até sua morte, quando o anjo de Deus o
recolheu durante o sono, nos dava e deu lições com suas atitudes e seu amor a
palavra de Cristo,(a Verdade), a tal ponto de minha esposa, então budista, hoje
cristã; ver nele inspiração para querer conhecer a esse Cristo, “que dá tanta
segurança e serenidade a uma vida” segundo suas próprias palavras
Meu caro pai, hoje eu
posso avaliar o quão importante foram tuas lições para minha caminhada, e
reverenciar a tua memória neste registro de minhas memórias.
Possa Deus ter
misericórdia de todos nós.
V.D.M.I.Ae.
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