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terça-feira, 26 de junho de 2012

Devaneios de uma tarde com chuva



Num momento de cansaço e estupefação  pelo que  se vê nesse arraial evangelico, assistindo um concerto de uma orquestra sinfônica de Santos, me permitir devanear e  aí esta a visão de um homem do interiorzão  desta terra Brasilis.


Carta de um matuto

Oi cumpadre  Martins, dicidi iscrever pr’ocê, pra mor de contá as dificurdade qui istô passando aqui na cidade grande.
Cumpadre as coisa pur aqui é tudo muito grande mermo
As casa aqui, ele chama de prédio e é mais ou menos anssim una empilhada em cina de otra, tem uns predio qui nas casa num mora ninguem, essas eles chamam de iscritório.
Eu vim prestes lados  por causa dum convite pra acertar uns causos de terras, o adivogado que me trouxe  no primero dia me levo prum tal de otél, uma dessas casa impilhadas que ele aluga.
O negocio desse tal de otél é bão mermo, tudo muito arrumadinho e limpinho, istranho mesmo é a cumida, tem uns negocio estranhos, com uns gosto que num agrada, e parece qui num tem sustança, a gente come logo dispois tá cum fome di novo, mas num é isso que me feiz te iscreve.
To iscrevendo pra conta que o adivogado me levo pra um tar de cuncerto.
Eu antes de ir fiquei matutanto qui negocio é esse de cuncerto?
Esse pessoar da cidade é tudo  muito  apressado, ficam num corre corre que até parece que o mundo vai acaba.
Quando eu sai mais o  advogado pra ir pro concerto, que ele disse que ia se num teatro ali perto, nois fomos andando, e olha o ar da cidade é muito isquizito, parece inté que tem cor, um marronzinho claro, e um cheiro bem ruim e escuita cumpadre eu inté fiquei chorando sem querer, num sei si era por num pode ver rio, os morro,  nem a nuvem, a gente só vê essas casa impilhadas, o si era por causa do tal ar marronzinho.
Eu inquanto ia andando pro tar de teatro pra ver esse tar de cuncerto, num tive corage de pregunta pro dotor qui coisa era isso de fazer um cuncerto e levar pessoas para vê. Ai nesse nosso grotão a gente cuncerta as coisa e so mostra dispois que o negocio esta cuncertado.
Chegamos nesse tal teatro, oi é uma casa grandona, logo na entrada tem um cômodo  que da pra gente coloca uma seis o sete casa igual as nossa, e oia ainda ia sobra espaço cumpadre, e eles poe um pano grandão bunito, cheio de desenho no chão, qui chamam de tapete, que eu inte tive dó de pisa com os meus burzeguins de matuto.
Mais o doto de agarantiu que era assim mesmo qui eu podia pisa.
Ai cumpadre entremo numa sala bem maió ainda que a qui eu falei aí no  começo, e tinha uma coisa istranha, um mundão de cadeira tudo alinhadinha virada prum lado só, e lá dentro fazia um frio de da gosto, seu eu sabia disso antes tinha levado um blusa mais pesada.
As cadeira tudo virada prum lado em que tinha um panão  bunito pendurado  que o doto me disse que era a cortina, de uma tar boca do parco; oia  dava pra fazer umas duzenta curtininha que a cumade custuma pendurar nas janelas.
Bem eu estava curioso  para ver o que eles iriam cuncertar, e comecei a achar ingraçado ter tanta gente bunita e bem arrumadinha e perfumada pra ver esse tal de cuncerto.
Ai tocou uma campainha, e ouvi dizer que o tal curcerto já ia começar, o pessoas que falava qui nem as gralha daí da nossa terrra de repente fico quieta, que dava pra ouvir mosquito voando.
Aquele cortinão  foi puxado pros lado e eu vi um mundão de gente sentadinho em roda de um home que estava vestido com um casaco esquisito, oi mais parecia um desses pingüim que fica inrriba das geladeiras. O casaco  alem de tudo tinha uns rabos cumpridos.
Aí ele virou de costa pra nois que esta tudo sentadinho naquelas cadeira que eu falei ali atrais.me pareceu que ele era o chefão desse tal de cuncerto;
Eu vi uns negocio que me disseram que eram instrumento, num sabia se era eles que iriam cuncerta ou iam usa pra cuncertar outra coisa. Mas percebi que o tal home do paletó esquizito era o chefão mesmo, ele tinha na mão uma varinha que devia ser poderosa, quando ele levantou  todos ficaram olhando pra ele, quando ele abaixo começaram a usar os tar de instrumento.
Eu notei arguns instrumento que eu conhecia de quando fui pro tiro de guerra, uma tar de corneta, daquelas pra acordar sordado vagabundo e dorminhoco,  cumpadre tinha uma tal variedade de corneta que oce num faz conta,mas tinha pro lado direito um instrumento grandão e um otros parecidos um pouco menor, assim de uns três tamanhos, e eu assuntei que do do isquerdo tinha um montão de intrumento parecido com os da direita, só que  menor, e matutei que deviam ser filhotes dos da direita,  um pouco parecido com as rabecas que nois cunhece; separados dos pais cum o maestro no meio, esse era o nome do home de casaco esquisito, pra num trapaiar o tar cuncerto.
Ah! Cumpadre la no fundão tinha lá umas zabumbas e tinha uns tacho grandão, como aquele que a cumade usa pra faze  doce de guaiaba, que quando o tal maestro apontava a varinha pros lado do tal tacho o home batia nele.
O som  comu ele dizem aqui pra diferençar de baruio era legar, eu num tava entendendo nada, mas arreparei que  as pessoas (home e muié) que estava cum istrumento parecido, tanto os gradão da direita, como os pititico da esquerda, tinha um negocio na mão direita parecido com uma serra dessas que agente usa pra cortar ferro, e esfregavam cum força os tar instrumento que fazia um som  bem mio mais muito parecido com o que faz a nossa serra quando corta ferro; me pareceu cumpadre que eles queriam cortar os instrumento no meio, mais aquela tar de serra que eles usava, parece que estava sem corte, pois mais que esfregava mais baruio fazia mas num cortava nada.
Todo  mundão de gente que estava sentadinha ali tudo alinhadinho oiando  pro parco estava tudo quietinho oiando o maestro que parecida que tinha hora que ficava nervoso e abanava a tar  varinha e que quando ele fazia isso os mus’cos, acho que cum medo tocava os instrumento mais alto e arguma veiz mais depressa.
Oi cumpadre, num entendi nada, não vi nada quebrado pra eles cuncerta, e vô  arresumi as coisas, o tar maestro fez um gesto de repente e todos os mus’cos parô de toca, acho que ninguém gosto muito da coisa toda, até o doto que me cunvido para ir ver o tar cuncerto que eu acho que não aconteceu pois todo mundo  fico de pé e batendo as palmas gritavam bem forte:
Bravo! Bravo! Bravo...
Eu num tinha intendido nada ,mas num estava bravo coisa nenhuma, achei também inquisito quando todo mundo começou a pedir  aquelas bolachinha  com chocolate...
Bis!Bis!, achei que iriam dar essas tar bolachinhas, e fique precupado comu iria fazer pra dar as bolachinha pra quele mundaréu de gente...
Ai o tal maestro viro de costas, balançou a varinha e os mus’cos garrarão a tocar de novo, quando pararam de novo o mundaréu garro a dizer gritando que todos estavam Bravos e os mus’cos, acho eu cum vergonha, só fartaram beija o chão de tanto que ser curvaram baixando a cabeça.
Oi cumpadre eu sou mais o sãozinho que nois tira de nossas violinhas nas tarde de sol bonito, pelo  menus ninguém fica bravo com a gente, eles ité gostam...
Oi cumpadre quando chega aí te conto umas outras coisa isquizitas que ocorre aqui nesta maleitosa cidade grande. E oia cumpadre eu prefiro nossa casinha de sapé  e taipa, onde a gente pode ouvir o canto dos passarinhos e o canto do mocho no cair da noite, respirar o ar tão purinho que inte dói nos purmão, comer nossa comida sustantosa, e de veis em quando saborea os lambari que a gente  pesca no corgo la no pé do morro, sem fala  em alegrar os oios cum as revoadas dos passarinhos e da borboletas todas as tardes, e contá os causos e desfiar a violinha  em roda das fogueiras.
Um abraço cumpadre, cum muito respeito da um abraço na cumade e um bejo nos meu afilhado, e fala, fazendo um favõ, pro Chico da Bodega que to levando a incomenda, fala ainda fazendo um outro favo com o vigário pra prepara as oreias que tem uns pecadinhos  qui eu vou te qui confessa, quando chega por aí.
Tonico.

Abaixo estou reescrevendo o texto acima, escrito o mais próximo do falar do nosso homem do interior e pouco  instruído, para uma linguagem mais formal para que os que utilizem das traduções e ou estejam pouco acostumados  possam entender o texto.


Oi compadre Martins, decidi escrever para você, para lhe contar as dificuldades que estou passando aqui na cidade grande.
Compadre, por aqui tudo é grande mesmo, as casas aqui eles chamam de prédio, e mais ou menos assim com um monte de casas uma em cima da outra.  E na maioria ninguém mora nelas, essas eles chamam de escritório.
Eu vim para cá em razão do convite para acertar uns problemas de documentação de terras, o advogado que me trouxe no primeiro dia me levou para um tal de hotel, uma dessas casas empilhadas, que alugam (comodo).
Esse negocio de hotel é muito bom mesmo, tudo muito arrumadinho e limpinho, o estranho mesmo é a comida, tem algumas coisas estranhas e com um gosto que não agrada, e parece mesmo não ser substancioso, nos comemos e logo depois estamos com fome di movo, mas não é isso que me fez te escrever.
Estou escrevendo para  contá que o advogado me levou para um tal concerto.
Ante de ir fiquei pensando, que negocio e esse de concerto?
Esse pessoal da cidade é todos muito apressados, ficam em um corre corre que até parece que o mundo vai acabar.
Quando eu sai junto com o advogado para ir para o concerto, que ele disse que ia ser em um teatro ali perto, nos fomos andando, e veja o ar da cidade é muito esquisito, parece até que tem cor, um marronzinho claro, e um cheiro bem ruim e escute compadre eu até fiquei chorando sem querer, não se era por poder ver o rio, os morros, nem mesmo as nuvens, a gente (aqui) só vê essas casas empilhadas, ou se era por causa do tal ar marronzinho.
Eu enquanto ia andando para o tal teatro para ver esse tal de concerto, não tive coragem de perguntar para o Doutor, que coisa era isso de fazer um concerto e levar as pessoas para ver. Aí nesse nosso vale, nos consertamos as coisas e só mostramos depois que a coisa esta consertada.
Chegamos no tal teatro, olha (compadre) é uma casa bem grande, logo na entrada tem uma sala que daria para colocar umas seis ou sete casas iguais as nossas, e veja, ainda iria sobrar espaço. E eles (do teatro) colocaram um grande pano bonito, cheio de desenhos no chão (dessa sala) que chamam de tapete, que eu tive dó de pisar com minhas botas de caipira.
Mas o doutor me garantiu que era assim mesmo, que eu podia pisar.
Então compadre, entramos em uma sala maior ainda da do que eu falei ai no começo e tinha uma coisa estranha, uma grande quantidade de cadeiras, todas alinhadinhas virada para um lado só, e la dentro fazia um frio de dar gosto, se eu soubesse disso antes teria trazido uma blusa mais pesada.
As cadeiras todas viradas para um lado só, que tinha um pano muito grande pendurado que o doutor me disse ser uma cortina, de uma tal boca do palco, olha daria para fazer umas duzentas cortininhas que a comadre costuma pendurar nas janelas.
Bem, eu estava curioso para ver o que eles iriam consertar, e comecei a achar engraçado ver tanta gente bonita e bem vestida e perfumada para ver esse tal concerto.
Então tocou uma campainha e ouvi dizer que o tal concerto já ia começar, as pessoas que falavam como se fossem gralhas daí de nossa terra de repente ficou quieta, que daria para ouvir mosquito voando.
Aquela enorme cortinha foi puxada para os lados e eu vi muitas pessoas sentadinhas em redor de um homem que estava vestido com um casado esquisito, olha, mais parecia um desses pingüins que costumam ficar em cima das geladeiras. O casaco além de tudo tinha uns rabos compridos.
Ai ele se virou de costas para nós que estávamos todos sentadinhos nas cadeiras que eu falei ali atrás, me pareceu que ele era o chefão desse tal concerto.
E uns negócios que me disseram que eram os instrumentos, não sabia se era eles que iriam consertar ou iriam usar para consertar outra coisa. Mas percebi que o tal homem do paletó esquisito era mesmo o chefão, ele tinha na mão uma varinha que devia ser poderosa, quando ele levantou (a varinha) todos ficaram olhando para ele, quando ele a abaixou, todos começaram a usar os tais instrumentos.
Eu notei que alguns instrumentos eu conhecida de quando fui para o Tiro de Guerra, uma tal corneta, daquelas para acordar soldado vagabundo ou dorminhoco, compadre existia uma tal variedade de cornetas que você não pode imaginar, mas tinha do lado direito uns instrumentos grandões e outros parecidos um pouco menor, e eu percebi que do lado esquerdo havia um monte de instrumentos como os da direita, somente que menores, que deveriam ser os filhotes dos da direita, um pouco parecidos com as rebecas que nós conhecemos; eles estavam separados dos pais pelo maestro esse era o nome do homem de casaco esquisito, para não atrapalhar o tal concerto.
Ah!  Compadre lá no fundo tinha uns tambores e tinha uns tachos grandões como aquele que a comadre usa pára fazer doce de goiaba, que quando o tal maestro apontava a varinha para os lados do tal tacho o homem batia no mesmo.
O som, como eles dizem aqui para diferencias de barulho era legal, eu não estava entendendo nada, mas reparei que as pessoas (homem e mulher) que estavam com os instrumentos parecidos, tantos os grandões da direito, como os pequeninos da esquerda, tinham um negocio na mão direita parecido com uma das serras dessa que nos usamos para cortar ferro, e esfregavam com força nos tais instrumentos que faziam um som bem melhor, mas muito parecido com o que faz nossa serra quando corta ferro: pareceu-me, compadre que eles queriam cortar os instrumentos ao meio, mas aquela tal de serra que eles usavam, parece que estava sem corte, pois quanto mais esfregavam mais barulho fazia, mas não cortavam nada.
Todas as pessoas sentadas ali todos alinhados olhando para o palco, estava m todos quietinhos olhando o maestro que parecia que em alguns momentos ficava nervoso e balançava a tal varinha e que quando ele fazia isso os músicos, acho que com medo, tocavam os instrumentos mais alto e em algumas vezes mais rápidos.
Olha compadre, não entendi nada, não vi nada quebrado para eles consertarem, e vou resumir as coisas, o tal maestro fez um gesto repentinamente e todos os músico pararam de tocar, acho que ninguém gostou muito da coisa toda, ate o doutor advogado que me convidou para ir ver o tal conserto, que acho que não aconteceu, pois todo mundo ficou de pé batendo palmas e gritando bem forte:
Bravo! Bravo!Bravo...
Eu não tinha entendido nada, mas não estava bravo coisa nenhuma, achei também esquisito quando todo mundo começou a pedir aquela bolachinhas com chocolate...
Bis! Bis! Achei que iriam dar essa tal bolachinhas e fiquei preocupado como iriam fazer para distribuir as tais bolachinhas para aquele mundo de pessoas.
Aí o tal maestro virou de costas, balançou a varinha e os músicos começaram a tocar novamente, quando pararam de novo o mundaréu começou a dizer gritando que todos estavam bravos e os músicos, acho que com vergonha só faltaram beijar o chão de tanto que se curvaram abaixando a cabeça.
Olhe compadre eu sou mais o sonzinho que nós tiramos de nossas violinhas nas tardes de sol bonito, pelo menos ninguém fica bravo com a gente, eles até gostam...
Olha compadre quando chegar aí te contarei outras coisas esquisitas que ocorre aqui nesta cidade grande com maleita.  Olha compadre eu prefiro nossas casinhas de sapé e taipa aonde a gente pode ouvir o canto dos passarinhos e o canto do mocho no cair da noite, respirar o ar tão purinho que chega a doer nos pulmões, comer nossa comida substanciosa e de vez em quando saborear os lambaris que pescamos no córrego lá no sopé do morro, sem falar em alegrar os olhos com as revoadas dos passarinhos e das borboletas de todas as tardes, e contar causos (historias) e desfiar a violinha em redor das fogueiras.
Um abraço compadre, e com muito respeito dê um abraço na comadre e um beijo nos meus afilhados, e fale, fazendo-me um grande favor, para o Chico Bodega que estou levando a encomenda, fale ainda, fazendo-me outro favor com o vigário para ele preparar as orelhas que tenho um pecadinhos, que vou ter que confessar, quando chegar por aí
Tonico

Não ia colocar esta brincadeira séria neste espaço, mas a instâncias de um neta me ví compelido a fazê-lo,
Mas saibam todos os que se detiveram para ler mais esta sandice que;
V.D.M.I.Ae.

1 comentários:

Mikaella disse...

Muito bommmm o texto.