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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Educere


Caros leitores e irmãos, confesso que no andar desta carruagem, estou a cada dia mais admirado de ainda ter quem  dedique se tempo a ler os escritos por aqui exarados por este velho,  (latu sensu) professor, e prestem atenção, leitores nas plagas mais extremas desta linda nave na qual o Senhor nosso Deus nos criou; bom deixemos de  bla.bla,bla e vamos logo ao assunto.
Já há um tempo que nada escrevo sobre educação... e essa vontade se me veio a tona quando passando de carro na frente de uma dessas muitas igrejas neopentecas que pululam  nas ruas desta cidade, que quanto mais dita evangélica mais aumenta a violência.
Um perfeito e arrematado testemunho de que o verdadeiro evangelho esta muito longe dessas igrejas, haja vista o que me levou a vir a  este teclado hoje(4/7-11h49minh), dizia, ou melhor, escrevia eu que passava de carro quando vi, por força de estar parado no farol em frente à mencionada igreja, uma porta de loja aberta para rua, que os irmãos enquanto se esbaldavam em louvor com  uma dançaria frenética com toques de  gritos e balançar de cabeça como quem as quisessem retirá-las de sobre o pescoço, seus filhos, estavam do lado de fora, a correr em meio aos carros em gritos  desmedidos, batendo nos espelhos nas latarias, correndo o risco de serem atropelados por motocicletas.
Esse fato de ver os fedelhos pentecas a se comportar tão irresponsavelmente no tocante à suas próprias vidas e o desrespeito com as demais pessoas envolvidas naquela correria desenfreada em meio a transito; levou-me a um texto do velho Barão em seu próximo futuro livro denominado “Memórias pré-póstumas do Barão do Bitarú” e devidamente autorizado pelo mesmo, (que por acaso sou eu mesmo) irei transcrever abaixo.
“Os dias se sucediam na sua inexorável marcha, embora não me parecessem longos, alegres e lindos, pois não me importunavam as contas a pagar, das quais o maior inconveniente era ouvir meus pais  reclamarem:
-Assim na dá, o custo das coisas não param de aumentar, a cada dia que passa tudo é mais caro...
E coisas desse tipo. Era uma ladainha muito rezada nos finais dos meses, quando do fechamento da caderneta da venda e de quando em quando essa ladainha era assacada contra o verdureiro.
Desse verdureiro me recordo muito bem...
Ele havia aparelhado uma carroça com um cavalo que a meu ver era um monge disfarçado, já que eu o via diariamente cumprir o roteiro que seu dono o submetia, sempre com orelhas baixa e com ares de estar em profunda meditação sobre os mais transcendentais problemas da sua vida e do mundo.
Essa carroça quitanda ou quitanda carroça, como queiram, era arrumada com muito esmero todos os dias, de uma forma atraente e convidativa ao consumo, e notem bem, o murruga (1) quitandeiro mal devia ter passado do Bê a BA e das duas operações fundamentais da aritmética, já que sabia sobremaneira somar para sí e subtrair aos outros. Esse seu parco preparo era de sobra compensado por um tino inato ao comércio.
Caprichava na arrumação de seus produtos, explorando as cores e texturas. No fundo e no centro da carroça dispunha as batatas, num lado os tomates e no outro os pimentões vermelhos; bordejando as caixas assim postas com os verdes do almeirão da couve manteiga que faziam o contraponto com o vermelho.
Dispunha nas laterais de um lado réstias de alhos brancos e roxos, do outro as cebolas.
Na parte de trás da carroça tinha uma armação de madeira em forma de forca onde pendurava quase sempre um enorme cacho de banana nanica, das maiores que havia visto até então, bananas amarelas sarapintadas de marrom, saborosas, que pelo cheiro atraiam as abelhas arapuás que produzem um dos meles mais saborosos que já provei na minha vida toda.
O dito português já era moderno na sua antiguidade, pois apregoa suas mercadorias gritando com uma voz roufenha e monótona: aos ventos:
-Olha o verdureiro madame, leve saúde para a sua mesa... e vez por outra perpetrava umas rimas usando o nome dos legumes e verduras, rimas que hoje não me ocorrem mais.
Nessa quitanda ambulante foi onde protagonizei um fato que muito provavelmente me afastou decididamente da vida política partidária.
Certa manhã a cantilena do luso quitandeiro fez com que D.Catharina- minha mãe- apanhasse a carteirinha de moedas e se  dirigisse à quitanda carroça puxada pelo meditativo filosofo muar; como não podia deixar de ser, lá fui eu atrás de minha mãe.
Chegando lá, entre os bons dias trocados entre o quitandeiro e freguesas e entre elas, mais alguns comentários sobre algum acontecimento do dia anterior... Eu ali postado tendo bem diante de mim o já mencionado cacho amarelinho-cheiroso de banana; não mais  do que de repente  estendi a mão e... Apanhei  uma.
Não me movia nenhum dolo ou maldade, simplesmente a cor e o odor despertaram em mim a ardente vontade de saboreá-la.
Terminada a transação, voltamos para casa.
Quando ao fechar o portão minha mãe viu que eu trazia à mão a sarapintada banana;  para ela a prova material irrefutável do mais abominável crime... O roubo, e exclamou
-Você roubou essa banana?
-Não mãe, eu só peguei uma...
-Não, o senhor roubou, ela, falando entre os dentes e com uma voz beirando a ira, e completou com vigor.
-Vai devolver  agora mesmo.
-Mas mãe, gemi eu...
-Cale a boca  e gritou  pelo quitandeiro que já havia posto o filosofo muar no seu trajeto diário.
Sr. José espere um pouco.
Minha mãe largou no chão o que trazia a mão, apanhou a minha orelha esquerda- a mais no jeito- e assim sujeitado, me arrastando, nos dirigimos à carroça quitanda que a estas alturas estava parada novamente.
Minha mãe dirigindo-se ao quitandeiro disse:
-Este moleque quer lhe pedir perdão por ter-lhe roubado uma banana.
O luso quitandeiro sorriu meio sem jeito e atalhou:
-Deixe isso prá la, ele não roubou nada... É uma criança e apenas apanhou uma simples banana, não há nada de mal nisso.
Essa fala pareceu-me ter aumentado à ira de minha mãe, pois eu senti uma pressão ainda maior na minha orelha. Minha mãe alteando a voz acrescentou:
-O senhor cuide de seus negócios  que da educação de meu filho cuido eu, e dirigindo-se a mim acrescentou:
-Devolva a banana e peça desculpas... Ande... E acrescentou a sua fala uma torção extra em minha orelha.
Ao que eu sem mais pensar ou falar, para me livrar da dor da orelha que já perpassava pelo pescoço até as costa, falei com voz entre choroso de vergonha e de dor.
-Eu roubei esta banana, o Senhor me desculpe, disse  estendendo a mão com a indigitada banana.
Quando o quitandeiro apanhou a fruta que eu lhe estendia.
-Nenê, (esse era meu apelido), você quer banana? Perguntou minha mãe.
-Quero, respondi entre choroso e envergonhado.
-O senhor me dê meia dúzia dessa banana, disse minha mãe ao  luso verdureiro, que ato continuo perguntou à minha mãe:
-Posso dar um presente ao petiz?
-Isso é com o senhor, respondeu minha mãe um tanto seco.
O quitandeiro ajuntou mais meia dúzia de bananas ás que já havia separado a pedido de minha mãe, devolvendo-me a banana que dera origem a tudo isto, acrescentando:
Esta estou ta dando como um presente extra."

Estes fatos trago-os na memória  como se fora um filme, me ocorrem ainda hoje às cores, os cheiros, as falas o cenário e tudo o mais com a maior fidelidade, e  é este fato que até os dias de hoje a essência de toda ojeriza a qualquer apropriação do que quer que seja que não me pertença.”
Aí esta a mais pura lembrança de um ensinamento, simples, direto e objetivo que procuro passar para os meus e àqueles que um dia tive  como meus alunos.
Diante dos fatos narrados lá no inicio eu me pergunto, onde estão os verdadeiros evangélicos, que abraçam toda a sorte de ventos de doutrinas e se esquecem de Provérbios 22: 6

Deus possa ter misericórdia de todos nós apesar de nós mesmos.

V.D.M.I.Ae.

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