Caros
leitores e irmãos, confesso que no andar desta carruagem, estou a cada dia mais
admirado de ainda ter quem dedique se
tempo a ler os escritos por aqui exarados por este velho, (latu sensu) professor, e prestem atenção,
leitores nas plagas mais extremas desta linda nave na qual o Senhor nosso Deus
nos criou; bom deixemos de bla.bla,bla e
vamos logo ao assunto.
Já
há um tempo que nada escrevo sobre educação... e essa vontade se me veio a tona
quando passando de carro na frente de uma dessas muitas igrejas neopentecas que
pululam nas ruas desta cidade, que
quanto mais dita evangélica mais aumenta a violência.
Um
perfeito e arrematado testemunho de que o verdadeiro evangelho esta muito longe
dessas igrejas, haja vista o que me levou a vir a este teclado hoje(4/7-11h49minh), dizia, ou
melhor, escrevia eu que passava de carro quando vi, por força de estar parado no
farol em frente à mencionada igreja, uma porta de loja aberta para rua, que os irmãos
enquanto se esbaldavam em louvor com uma
dançaria frenética com toques de gritos
e balançar de cabeça como quem as quisessem retirá-las de sobre o pescoço, seus
filhos, estavam do lado de fora, a correr em meio aos carros em gritos desmedidos, batendo nos espelhos nas
latarias, correndo o risco de serem atropelados por motocicletas.
Esse
fato de ver os fedelhos pentecas a se comportar tão irresponsavelmente no
tocante à suas próprias vidas e o desrespeito com as demais pessoas envolvidas
naquela correria desenfreada em meio a transito; levou-me a um texto do velho
Barão em seu próximo futuro livro denominado “Memórias pré-póstumas do Barão do
Bitarú” e devidamente autorizado pelo mesmo, (que por acaso sou eu mesmo) irei
transcrever abaixo.
“Os dias se sucediam na
sua inexorável marcha, embora não me parecessem longos, alegres e lindos, pois
não me importunavam as contas a pagar, das quais o maior inconveniente era
ouvir meus pais reclamarem:
-Assim na dá, o custo
das coisas não param de aumentar, a cada dia que passa tudo é mais caro...
E coisas desse tipo.
Era uma ladainha muito rezada nos finais dos meses, quando do fechamento da
caderneta da venda e de quando em quando essa ladainha era assacada contra o
verdureiro.
Desse verdureiro me
recordo muito bem...
Ele havia aparelhado
uma carroça com um cavalo que a meu ver era um monge disfarçado, já que eu o
via diariamente cumprir o roteiro que seu dono o submetia, sempre com orelhas
baixa e com ares de estar em profunda meditação sobre os mais transcendentais
problemas da sua vida e do mundo.
Essa carroça quitanda
ou quitanda carroça, como queiram, era arrumada com muito esmero todos os dias,
de uma forma atraente e convidativa ao consumo, e notem bem, o murruga (1) quitandeiro mal devia ter passado do Bê a BA e das duas operações fundamentais
da aritmética, já que sabia sobremaneira somar para sí e subtrair aos outros.
Esse seu parco preparo era de sobra compensado por um tino inato ao comércio.
Caprichava na arrumação
de seus produtos, explorando as cores e texturas. No fundo e no centro da
carroça dispunha as batatas, num lado os tomates e no outro os pimentões vermelhos;
bordejando as caixas assim postas com os verdes do almeirão da couve manteiga
que faziam o contraponto com o vermelho.
Dispunha nas laterais
de um lado réstias de alhos brancos e roxos, do outro as cebolas.
Na parte de trás da
carroça tinha uma armação de madeira em forma de forca onde pendurava quase sempre
um enorme cacho de banana nanica, das maiores que havia visto até então,
bananas amarelas sarapintadas de marrom, saborosas, que pelo cheiro atraiam as
abelhas arapuás que produzem um dos meles mais saborosos que já provei na minha
vida toda.
O dito português já era
moderno na sua antiguidade, pois apregoa suas mercadorias gritando com uma voz
roufenha e monótona: aos ventos:
-Olha o verdureiro
madame, leve saúde para a sua mesa... e vez por outra perpetrava umas rimas
usando o nome dos legumes e verduras, rimas que hoje não me ocorrem mais.
Nessa quitanda ambulante
foi onde protagonizei um fato que muito provavelmente me afastou decididamente
da vida política partidária.
Certa manhã a cantilena
do luso quitandeiro fez com que D.Catharina- minha mãe- apanhasse a carteirinha
de moedas e se dirigisse à quitanda
carroça puxada pelo meditativo filosofo muar; como não podia deixar de ser, lá
fui eu atrás de minha mãe.
Chegando lá, entre os
bons dias trocados entre o quitandeiro e freguesas e entre elas, mais alguns comentários
sobre algum acontecimento do dia anterior... Eu ali postado tendo bem diante de
mim o já mencionado cacho amarelinho-cheiroso de banana; não mais do que de repente estendi a mão e... Apanhei uma.
Não me movia nenhum
dolo ou maldade, simplesmente a cor e o odor despertaram em mim a ardente
vontade de saboreá-la.
Terminada a transação,
voltamos para casa.
Quando ao fechar o portão
minha mãe viu que eu trazia à mão a sarapintada banana; para ela a prova material irrefutável do mais
abominável crime... O roubo, e exclamou
-Você roubou essa
banana?
-Não mãe, eu só peguei
uma...
-Não, o senhor roubou, ela,
falando entre os dentes e com uma voz beirando a ira, e completou com vigor.
-Vai
devolver agora mesmo.
-Mas
mãe, gemi eu...
-Cale a boca e gritou
pelo quitandeiro que já havia posto o filosofo muar no seu trajeto diário.
Sr. José espere um pouco.
Minha mãe largou no chão o que
trazia a mão, apanhou a minha orelha esquerda- a mais no jeito- e assim
sujeitado, me arrastando, nos dirigimos à carroça quitanda que a estas alturas
estava parada novamente.
Minha mãe dirigindo-se ao
quitandeiro disse:
-Este moleque quer lhe pedir
perdão por ter-lhe roubado uma banana.
O luso quitandeiro sorriu meio
sem jeito e atalhou:
-Deixe isso prá la, ele não
roubou nada... É uma criança e apenas apanhou uma simples banana, não há nada
de mal nisso.
Essa fala pareceu-me ter
aumentado à ira de minha mãe, pois eu senti uma pressão ainda maior na minha
orelha. Minha mãe alteando a voz acrescentou:
-O senhor cuide de seus
negócios que da educação de meu filho
cuido eu, e dirigindo-se a mim acrescentou:
-Devolva a banana e peça
desculpas... Ande... E acrescentou a sua fala uma torção extra em minha orelha.
Ao que eu sem mais pensar ou
falar, para me livrar da dor da orelha que já perpassava pelo pescoço até as
costa, falei com voz entre choroso de vergonha e de dor.
-Eu roubei esta banana, o Senhor
me desculpe, disse estendendo a mão com
a indigitada banana.
Quando o quitandeiro apanhou a
fruta que eu lhe estendia.
-Nenê, (esse era meu apelido), você
quer banana? Perguntou minha mãe.
-Quero, respondi entre choroso e
envergonhado.
-O senhor me dê meia dúzia dessa
banana, disse minha mãe ao luso
verdureiro, que ato continuo perguntou à minha mãe:
-Posso dar um presente ao petiz?
-Isso é com o senhor, respondeu
minha mãe um tanto seco.
O quitandeiro ajuntou mais meia dúzia
de bananas ás que já havia separado a pedido de minha mãe, devolvendo-me a
banana que dera origem a tudo isto, acrescentando:
Esta estou ta dando como um
presente extra."
Estes fatos trago-os na memória como se fora um filme, me ocorrem ainda hoje às
cores, os cheiros, as falas o cenário e tudo o mais com a maior fidelidade,
e é este fato que até os dias de hoje a essência
de toda ojeriza a qualquer apropriação do que quer que seja que não me
pertença.”
Aí esta a mais pura lembrança de
um ensinamento, simples, direto e objetivo que procuro passar para os meus e
àqueles que um dia tive como meus alunos.
Diante dos fatos narrados lá no
inicio eu me pergunto, onde estão os verdadeiros evangélicos, que abraçam toda
a sorte de ventos de doutrinas e se esquecem de Provérbios 22: 6
Deus possa ter misericórdia de
todos nós apesar de nós mesmos.
V.D.M.I.Ae.
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